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Contente de tão triste

Posted by Fernando Batista On 0 comentários

É o último nível de tristeza. Quando se leva golpes e mais golpes, na testa, no coração, pulmões são arrebentados por essa falta de ar que os murros do destino são são tão hábeis em causar...


Não estranhe quando já não houver mais esperanças de sorriso e quando a noite te sufocar com os dedos negros da solidão e você, num acesso de loucura, sorrir. Com a boca escorrendo sangue esboçamos a mais doentia expressão de insanidade, a expressão mais graciosa de quem foi torturado o bastante a ponto de ignorar toda a dor: o sorriso.

Velhos choram nas ruas... Mendigos pedem esmolas... Bêbados cantam suas tristezas afogados no fundo de um copo sujo de um bar podre numa cidade imunda... Mortos antes do tempo, todos eles, e nem ao menos lhes contaram. Mas todos eles, de tristeza, sorriem.

Já é tarde. Taparam nossos olhos enquanto crescíamos curiosos pra espiar a dor do outro e pensávamos ainda num jeito de cuidar de todos. Hoje já não tapam, não precisam, crescemos, sabemos tapar nossos próprios olhos. Aprendemos a estancar todo o sangramento que escorre por essas feridas abertas que chamam de ouvido.

Há quem use a expressão "chorar de rir" quando algo é muito engraçado... Para a tristeza vale o oposto, "rir de chorar"... É a irônica linha dos sentimentos completando seu círculo vicioso... Choramos de rir quando a situação não pode ser melhor, rimos quando a situação é boa, estamos normais em boa parte do tempo, choramos quando tudo vai mal... Mas quando tudo está realmente uma merda que não pode ser consertada, e nos vemos no fundo do escuro poço do desespero - eis a parte mais irônica do círculo - voltamos a sorrir!

Vejam só que curioso! SORRIMOS! Escondemos as lágrimas enquanto engolimos todas as tristezas outrora vomitadas... Sorrimos enganando aos outros, e os protegemos de nossa tristeza e protegendo a nós mesmos de ver mais gente triste assim, isso só pioraria as coisas. É um sério mecanismo de defesa tal sorriso (o de tristeza), forte o bastante para que ninguém perceba que algo vai mal. Poderoso o suficiente para ninguém se incomodar e podermos enfim relaxar buscando pensar em nada...

Isolamo-nos em nosso mundo de sofrimento e esquecemos de todos que se preocupam. E culpamos o mundo choramingando pro travesseiro, coitado do travesseiro. E nos questionamos de tal abandono, e berramos de ódio e de stress e de nojo de tudo. De repente odiamos tudo aquilo que queríamos proteger e nem sabemos ao certo o porque. Dormimos. A dor passa um pouco...

Aos poucos voltamos os pés ao chão, deixando o inferno interior queimar no esquecimento da noite passada... Plantamos um sorriso outra vez no rosto e levantamos, pedaços de carne contentes de tão tristes, para superar mais um dia nesse sombrio caminho misterioso que nosso próprio orgulho traçou e que insistimos em seguir às cegas, sozinhos, reclamando.

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