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Rui! Oras ore às rúculas...

Posted by Fernando Batista On 0 comentários



Marina brincava no canteiro dos seus pais. Ela começou a cultivar essa nova paixão há algum tempo. Antes vivia apenas para a igreja e a escola, mas criava vida em seu quintal no momento. Plantas, vegetais de toda sorte e tamanhos ocupavam suas tardes ensolaradas de verão. "Que cresça saudável e forte" orava por todo o lote, "Que o Senhor livre meu plantio do mal, do frio e da morte".
Seu vizinho, Rui, da mesma faixa etária, ria-se e traquejava seus gracejos com Marina, esnobando a pequenina de seu hobbie tão engraçado.
- Oras Rui, mal-educado, por acaso não sabeis que orar não é errado?
- Disso sei pequena tola, mas sabes pelo que oras?
- Sim sei, é por minha horta, para que não haja alforra.
- Que é isso?
- O que? Alforra?
- É, diga logo p...
- É doença! Doença de planta, que mata! E não quero que minha horta morra.
- E orar ajuda em que?
- Se não crê não pode entender. - não argumentar o irritava a valer.
- O que é crer?
- Acreditar sem provar.
- E porque pensas que não posso acreditar? Por ser lógico e são?
- Não! Porque já me disse que é ateu, e não cristão.
- Foi o que disse, mas, enfim... Sou um ateu mente-aberta. Se me mostrar que faz sentido e eu ver que está certa mudo minha opinião. Dou-te por bem entendedida e deixo de ser brincalhão.
- Será que vale a pena explicar pra você?
- Oras, tente, por que não?
Marina limpou os joelhos depois de se levantar do chão e, com ar sereno e alegre, decidida em ser breve começou a explicação:
- Escuta, há um Cara lá em cima olhando por todos nós. Criou os homens e plantas e tudo o que há na Terra, nos céus, no mar. De leste a oeste, do sul ao norte.
- Criou inclusive a morte?
- Sim.
- E a doença, a alforra, o frio e o mal de toda a sorte?
- É! Mas nós homens quem fazemos com que essas coisas aconteçam!
- E Ele, se quiser, não impede?
- Impede, mas não quer. Espera que nós façamos as coisas boas. Tanto o homem quanto a mulher.
- Mas sabe que não faremos...
- Mas fazemos!
- Nós sim! Mas, imaginemos: há tanta gente que não faz!
- Mas os outros são os outros! Temos que fazer nossa parte rapaz!
Rui gostava de argumentos e Marina, de birrentos.
- O que está plantando? - Rui recomeçou.
- Rúcula. - Marina revelou.
- Exemplificando: De que adianta você plantar e esperar, se Deus mandar nevar?
- É sinal que não era hora do plantio.
- Nossa, mas que Deus doentio!
- Mas Ele não vai mandar! E, se o fizer, temos com o que nos sustentar.
- Vocês sim mas, imagine, imagine por um só instante que sua família precisasse do fruto e viesse o inverno congelante. Morreriam todos de fome? Seria esse o destino de uma família de bem? Que coisa agoniante!
- Ele sabe o que faz. Se acontecesse, teria um motivo.
- Ah... Que argumento mais furtivo. À mim isso faz tanto sentido quanto orar às próprias frutas. É isso Marina! Coisas fajutas por fajutas, ore às rúculas!
- Rui! Oras ore às rúculas... Que coisa imbecil de se dizer. E rúcula nem é fruta!
- Imbecilidade é crer! Acreditar sem ter provas... Parvoíce chula!
- E você não acredita mesmo em Deus?
- Deus não existe! Pensar nesta hipótese é babaquisse!
- Hmm... E qual prova tens disso? - Rui corou - Que foi? Vai me dizer que é uma crendice?

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